Liber 777
Introdução
Todos os seres
humanos buscam a felicidade, porém, muitos não sabem como encontrá-la. Isto se
deve a que a maioria imagina que ela reside no bem-estar material. Por outro
lado, há uma minoria convencida de que uma vida exclusivamente orientada para a
espiritualidade a torna possível. Na verdade, nem uma nem outra dessas duas
maneiras de entender a vida é ideal, pois a felicidade depende de um estado de
equilíbrio perfeito entre nossos desejos materiais e nossas aspirações
espirituais. Ora, o melhor caminho que pode conduzir a esse estado é o do
misticismo, que, por definição, consiste no estudo e na aplicação do elo
harmônico que une o homem ao Deus que ele é capaz de sentir e compreender. Para
o ser humano encarnado, o único modo de viver plenamente essa união é manter-se
em harmonia consigo mesmo, com os outros e com o seu ambiente natural.
A HARMONIA CONSIGO MESMO
A harmonia que
devemos manter relativamente a nós mesmos diz respeito ao nosso corpo, à nossa
razão e a nossas emoções. É evidente que, se violamos continuamente as leis naturais
que operam em nosso corpo, não podemos manter uma boa saúde. Devemos então nos
esforçar sempre para tratar nosso organismo físico com o maior respeito e não
comprometermos por negligência a harmonia que Ihe é devida. Uma alimentação mal
equilibrada ou excessiva, falta de repouso, insuficiência de exercício, são
alguns fatores físicos que perturbam o equilíbrio do nosso corpo. O mesmo
princípio se aplica à nossa razão. O fato de que vivemos neste plano terreno
nos obriga a recorrer a faculdades objetivas e subjetivas. A razão é uma das
mais importantes dentre elas, porque é a partir dos nossos julgamentos que
dirigimos nossa vida cotidiana. Quanto mais nos dedicamos a reflexões sadias e
úteis, mais fazemos dela o que ela deve ser. isto é, um instrumento destinado a
expressar o melhor de nos mesmos. Se a submetemos à influência de coisas fúteis
e impuras, cortamos o laço harmônico que deve uni-la aos impulsos de nossa
alma. Devemos então refletir sempre sobre assuntos dignos de consideração para
um místico. Ler obras interessantes, assistir a filmes educativos, meditar
sobre os grandes problemas da vida, são as atividades típicas que permitem que
mantenhamos harmonia em nossa mente. Quanto ao campo das emoções, o leitor sabe
que sentimentos baseados na cólera, no orgulho, no ciúme, na maldade, etc.,
prejudicam consideravelmente nosso bem-estar emocional e, por conseguinte,
nosso equilíbrio físico. Fora dos extremos que vimos de mencionar, sentimentos
de medo, ansiedade, inquietação, são igualmente prejudiciais para a harmonia
geral que deve prevalecer em todos os níveis do nosso ser. Cada indivíduo deve
portanto fazer todo o possível para vibrar ao ritmo de emoções puras e
construtivas; é impossível viver em paz profunda enquanto se permanece
prisioneiro de reações emocionais discordantes.
A HARMONIA COM OS OUTROS
Já citamos a
harmonia que devamos manter entre nos mesmos e os outros. É impossível
evoluirmos e mesmo vivermos sem estabelecermos contatos freqüentes com nossos
semelhantes. O homem, como ser encarnado, não é uma individualidade tão
autônoma como pensa que é. A vida comunitária Ihe é necessária, pois nenhum ser
humano, por independente que seja, pode viver feliz e desabrochar sem
satisfazer sua necessidade inata de comunicação. Foi o instinto gregário que
impeliu o homem a viver em sociedade e fazer dessa sociedade a garantia de seu
bem-estar familiar. Como todos precisamos dos outros, devemos evitar manter
para com eles associações baseadas em relações de força e domínio. Isso
significa que devemos fazer tudo para preservar a harmonia em nossa família e
viver em bom entendimento com todas as pessoas com quem devemos conviver, seja
no plano familiar ou profissional, ou no quadro mais geral da coletividade
humana. Com efeito, que pode ser mais doloroso, no plano interior, do que viver
permanentemente num ambiente conflituoso? Toda situação de discórdia entre nos
mesmos e os outros deve ser evitada, porque contém o germe de todas as guerras
que assolam o mundo. A harmonia deve ser a regra de ouro da vida familiar e
social. Isso não implica que todos os indivíduos devam pensar, falar e se
comportar da mesma maneira, visto que a uniformidade é inimiga da evolução.
Significa simplesmente que devemos conviver em respeito mútuo, com o desejo de
colocar nossas diferenças de opinião e comportamento a serviço do bem-estar dos
outros.
A HARMONIA COM A NATUREZA
Examinemos agora
a harmonia que precisamos manter entre nós mesmos e nosso ambiente natural.
Este ponto não deveria requerer nenhum comentário, já que é evidente.
Infelizmente, porém, basta olharmos à nossa volta para constatarmos a que ponto
o homem, por preguiça, negligência ou interesse, não hesita em perturbar o
equilíbrio ecológico do seu próprio meio ambiente. A natureza tem no entanto
seus direitos e o homem, por sua vez, só tem deveres. Enquanto ele não
compreender esta lei, continuará a destruir e comprometer seu ambiente, até o
dia em que sofra individual e coletivamente as conseqüências de seus atos, se é
que isto já não está acontecendo. É por isso que cada ser humano deve tomar
consciência de que não podemos perturbar impunemente a ordem natural a que
todos devemos a vida. Essa ordem natural prevalecia bem antes que o homem
aparecesse na Terra e não há dúvida de que ela prevalecerá quando ele desaparecer,
a menos que, evidentemente, nosso planeta seja destruído num apocalipse
definitivo. O misticismo, também nisso, é o caminho que deve permitir ao homem
reconciliar-se com a natureza. Sem essa reconciliação, a humanidade está
condenada á autodestruição, pois, tenhamos consciência disso ou não, toda
investida contra seu ambiente natural priva-a de uma parte de si mesma.
Para resumir o
essencial desta introdução, afirmamos que a felicidade está na medida da
harmonia que o homem é capaz de manifestar relativamente a si mesmo, aos outros
e ao seu ambiente. Quanto mais ele tem consciência do que essa harmonia
representa para o seu bem-estar pessoal, mais sente o desejo e a necessidade de
a manter à sua volta e no seu meio ambiente natural. Ora, a experiência
demonstra que todo indivíduo que toma consciência disso compreende que não
existem vários tipos de harmonia e, sim, uma só Harmonia Cósmica,
manifestando-se em diferentes planos e em diversos campos.
DEFINIÇÃO DO SANCTUM CELESTIAL
Um dos objetivos da
filosofia Rosacruz consiste em dar a cada ser humano os meios de viver a
Harmonia Cósmica nos planos físico, mental, emocional e espiritual. Os
ensinamentos místicos que os Rosacruzes recebem ao longo de sua afiliação
contribuem muito para isso. Mas, para possibilitar uma harmonização total com
as forças universais mais positivas, a Antiga e Mística Ordem da Rosa-Cruz,
dada sua natureza tradicional e iniciática, integra em sua Egrégora (*) um
campo de energia cósmica de que se podem beneficiar todos aqueles que conhecem
o meio de estabelecer contato com esse campo. Justamente esse campo de energia,
que não está limitado no tempo nem no espaço, é o que a tradição Rosacruz
denomina Sanctum Celestial.
Para os
Rosacruzes, o Sanctum Celestial é o mais elevado plano de consciência que eles
podem alcançar harmonizando-se interiormente com o Cósmico. No plano
vibratório, esse nível de consciência é a expressão virtual daquilo que a
Rosa-Cruz, como ideal filosófico e místico, coloca de mais puro a serviço do
homem. É por isso que dizemos que o Sanctum Celestial é o campo da purificação,
da regeneração, da revelação e da iluminação. E assim é porque todo contato com
ele coloca a alma humana em ressonância com a Grande Alma Universal e com todo
o potencial de força e sabedoria que ela contém. Para os Membros da AMORC, ele
constitui verdadeiramente uma pirâmide de ideais e virtudes, e é no ápice
simbólico dessa pirâmide que se situam os Mestres Cósmicos que velam pela
tradição Rosacruz. Esta é a razão pela qual a maior parte das experiências
místicas que os Rosacruzes são levados a fazer ao longo de seus estudos
privados situam-se no nível do Sanctum Celestial.
A VISUALIZAÇÃO DO SANCTUM CELESTIAL
O Sanctum
Celestial, como vimos de dizer, não é propriamente um lugar. Todavia, todo
mundo sabe o quanto é difícil para a mente humana conceber de modo abstrato um
campo de energia cósmica. Por isto o doutor H. Spencer Lewis, primeiro
lmperator para o atual ciclo de atividade da AMORC, elaborou uma técnica que
permite ao indivíduo harmonizar sua consciência com esse campo de energia. Essa
técnica, como disse o próprio Frater Lewis, não é fruto de seus pensamentos
pessoais. Ela Ihe foi cosmicamente revelada durante um contato que ele mesmo
fez com esse plano de elevada espiritualidade, ao qual deu o nome de Sanctum
Celestial. A experiência mística que ele viveu foi tão profunda, tão
inspiradora, que ele procurou renová-la seguindo as revelações que havia
recebido quando de sua sublime comunhão cósmica. Finalmente, assumiu o dever de
torná-la acessível a todos, traduzindo-a para uma forma tão simples quanto
possível. Seus esforços foram recompensados, visto que ele nos legou o método a
seguirmos para termos acesso ao Sanctum Celestial.
Antes de
passarmos a esse método, é necessário que você conceba sua própria visualização
do Sanctum Celestial, porque ninguém pode alcançar o que não é capaz de
definir. Neste particular, cabe a cada um definir sua própria maneira de
imaginar esse lugar simbólico. Alguns o vêem sob forma de uma catedral; outros,
com o aspecto de uma mesquita, de uma sinagoga ou de qualquer edifício
consagrado a uma religião específica; outros, ainda, preferem concebê-lo com o
aspecto de uma paisagem inspiradora; quanto à maioria dos Rosacruzes,
visualizam-no sob forma de um templo da Rosa-Cruz. Na realidade, há tantas
maneiras de imaginar o Sanctum Celestial quantos indivíduos que manifestam o
desejo de entrar em comunhão com o mesmo. O que importa é que a visualização
desse elevado plano cósmico suscite em cada qual as mais belas emoções
relativamente ao Plano Divino.
A ELEVAÇÃO AO SANCTUM CELESTIAL
Toda vez que você
desejar se elevar ao Sanctum Celestial, isto é, ao plano de consciência mais
elevado que possa alcançar para receber os benefícios do Cósmico, proceda da
seguinte maneira:
- Lave as mãos,
simbolizando sua purificação física, e enxugue-as bem. Em seguida beba um copo
de água fresca, simbolizando seu desejo de estar tão puro quanto possível no
plano interior. Quanto mais seus atos e pensamentos exprimirem sua humildade e
sua reverência para com o Cósmico, mais você reunirá as condições ideais para
uma harmonização consciente com o Sanctum Celestial.
- Feito isso,
sente-se num lugar calmo, com as costas bem apoiadas e os pés separados e bem
plantados no chão. Coloque suas mãos sobre os joelhos, feche os olhos e faça
mentalmente a seguinte invocação:
Que a sublime essência do Cósmico
se infunda em meu ser e me purifique de todas as impurezas de mente e corpo,
para que eu possa entrar no Sanctum Celestial e ali comungar com pureza e
dignidade.
Assim Seja!
Esta invocação, como
você pode observar, não tem nenhum caráter religioso ou sectário. Seu objetivo
é simplesmente exprimir ao Cósmico seu desejo de elevar sua consciência ao seu
Sanctum Celestial, a fim de entrar em comunhão com a sabedoria que ele
simboliza no plano místico. Além disso, ela coloca sua comunhão sob a proteção
da Egrégora da Rosa-Cruz, de maneira que nenhuma influência negativa possa se
exercer sobre você enquanto se encontrar nesse estado interior.
- Tendo feito
essa invocação, respire fundo algumas vezes, de modo que fique bem
descontraído. Para isto, inale e exale profundamente pelo nariz, de maneira
regular e ininterrupta.
- Quando se
sentir perfeitamente descontraído, retome sua respiração normal e comece a
imaginar que está se elevando em consciência ao Sanctum Celestial. Ou seja,
imagine que está se elevando acima do recinto onde se encontra, de sua casa, de
seu país, até o momento em que, afastando-se cada vez mais da Terra, você a vê
apenas como uma esfera girando lentamente no espaço.
- Volte agora seu
olhar para o infinito cósmico e prossiga com a sua ascensão, espiritual, até
perceber o Sanctum Celestial conforme decidiu visualizá-lo. É nesse momento que
deve imaginá-lo sob forma de uma catedral, uma mesquita, uma sinagoga, um
templo, uma paisagem, etc. O simples fato de vê-lo assim, destacado no Cosmo e
banhado na luz astral, deve enchê-lo de uma alegria interior indescritível.
- Se escolheu
visualizar seu Sanctum Celestial sob forma de um edifício, imagine agora que
está entrando nele e sentando-se num lugar de sua escolha. Então, perfeitamente
descontraído, contemple mentalmente as maravilhas que se oferecem a seus olhos:
os vitrais, as esculturas, as pinturas, as colunas, as abóbadas e, de modo
geral, todos os elementos que fazem parte da decoração de um lugar consagrado à
prece e à meditação. A essa beleza visual você pode acrescentar a impressão bem
nítida de ouvir uma música particularmente inspiradora. Pode também imaginar
que uma fragrância de incenso impregna todo o local onde se encontra mentalmente.
Em suma, a visualização do seu Sanctum Celestial deve levá-lo a perder
completamente a consciência do mundo terrestre e viver no plano da alma. Todos
os seus pensamentos e todas as suas emoções devem estar tomados de uma grande
serenidade e de um bem-estar que nenhuma satisfação física poderia Ihe
proporcionar.
- Se você prefere
imaginar seu Sanctum Celestial sob forma de uma paisagem, então deve, no
momento final de sua ascensão, integrar-se totalmente nessa paisagem, como se
ela realmente existisse. Em outras palavras, deve visualizar-se numa floresta,
à beira de um rio ou um lago, num campo verdejante e, de modo geral, no quadro
natural que escolheu para sua visualização. É também importante que sua
atividade consciente inclua cores, perfumes, ruídos, etc. No caso particular de
uma paisagem, você pode imaginar o sopro do vento, o canto dos pássaros, o
aroma das flores, o azul do céu, etc. O que importa, como já dissemos, é que
você perca objetivamente a consciência do seu corpo físico e do seu ambiente
terrestre, pois esta é a condição para receber do Cósmico o influxo de suas
vibrações mais sutis.
- Quando se
encontrar em seu
Sanctum Celestial , deixe-se impregnar totalmente pelo
ambiente ao mesmo tempo sagrado, inspirador e reconfortante que nele reina.
Banhando o corpo e a alma nesse ambiente, este é o momento de expressar ao Deus
do seu coração as razões que o levaram ao recolhimento nesse lugar de elevada
espiritualidade. No caso de um problema de saúde, evoque-o mentalmente, como se
o comunicasse à Inteligência Cósmica mais pura que possa conceber. Faça o mesmo
se a sua presença no Sanctum Celestial for motivada por seu desejo de ser
esclarecido quanto a algum problema familiar, social, profissional, ou qualquer
outro. Caso seu objetivo seja simplesmente de orar ou meditar sobre algum
assunto filosófico, faça isso nesse quadro harmonioso e proceda conforme seus
impulsos.
- Após ter
evocado mentalmente a razão que o levou a se elevar ao plano de consciência
simbolizado pelo Sanctum Celestial, não pense mais nisso; mantendo-se no
ambiente harmonioso que Ihe serviu de quadro, coloque-se num estado de total
receptividade. Se conseguir isso, será então que receberá o influxo cósmico que
o aliviará, curará, ou Ihe trará a resposta que buscava, etc. Não quer dizer
que terá imediatamente consciência de ter recebido esse influxo, visto que ele
ocorre num plano psíquico que não é perceptível objetivamente. Mas, com o
passar das horas ou dos dias, você poderá avaliar todo o impacto que essa
comunhão cósmica terá tido em seu ser ou em seu ambiente. Na verdade, podemos
dizer que esse contato espiritual se traduz sempre por efeitos benéficos. É por
isto que, a despeito das aparências, é impossível falhar na experiência do
Sanctum Celestial. Mesmo que você tenha a impressão de não ter conseguido se
elevar ao plano de consciência que ele simboliza, saiba que estará equivocado,
pois nenhum fracasso é possível no plano da alma.
- Terminado esse
período de receptividade, volte gradativamente ao plano objetivo. Em outras
palavras, veja-se mentalmente deixando seu Sanctum Celestial e faça em sua
consciência o trajeto inverso daquele que fez para se elevar a ele. De volta à
consciência objetiva, abra os olhos e faça a seguinte invocação:
Que o Cósmico santifique meu contato
com o Sanctum Celestial!
Assim seja!
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