As sociedades Secretas
Estou divulgando uma delas:
Capítulo 8 – A Primeira Sociedade Secreta
Limpei
a garganta e comecei.
Naqueles
tempos, existia uma revista chamada “Pop”, dirigida ao público jovem. Eu era
leitor assíduo da revista e em um de seus números houve uma reportagem com um
famoso técnico de som onde ele dizia que, um bom início para esta carreira era
fazer um curso técnico de eletrônica.
Foi
o suficiente. Como, coincidentemente eu havia terminado os estudos do 1º grau,
me matriculei num curso de técnico de eletrônica. Eu tinha 17 anos nessa época.
Neste
colégio, conheci muitas pessoas interessantes, e entre eles havia um que tinha
um amigo meio “esquisito” chamado H.. Com o tempo, acabei fazendo amizade
também com ele, e em nossas conversas ele citou que seu pai estudava em uma
fraternidade e que ele o viu fazendo algumas coisas bem estranhas uma das quais
era “entrar no espelho”, pelo menos foi assim que ele interpretou na época o
que havia visto (sem o conhecimento do Pai). Disse que seu pai estava sentado
de frente para um espelho e utilizando outro menor, realizou a façanha!
Dá
para imaginar o que essa narrativa causou na minha imaginação! Fiquei fascinado
pelo assunto. Então, o H. me emprestou alguns livros sobre misticismo e
ocultismo. Minha mente viajava junto com a narrativa do autor.
Assim
eu queria muito aprender cada vez mais os assuntos Ocultos e Místicos. Como o
H. havia dito que seu Pai frequentava uma dessas organizações, procurei mais
informações com ele. Muito insisti e ele acabou conseguindo tais informações e
entrei em contato com minha primeira Ordem Iniciática.
A
única informação que eu consegui foi que a Organização ficava em certa rua no
centro de São Paulo, Brasil, e tinha uma “maçaneta triangular” na porta! Muito
fácil de localizar não é?
Eu
praticamente desconhecia o centro de São Paulo naquela época e não tinha a
mínima ideia de onde essa rua ficava. Mas, continuei tentando. Com ajuda de uma
amiga do colégio, a B., tomamos coragem e “cabulando” aula, lá fomos nós para o
“centrão” da cidade à noite.
Pegamos
um ônibus que dizia passar na rua que queríamos e descemos no final dela.
Lembro-me que fiquei horrorizado e a B. ficou petrificada. Era um lugar muito
feio e escuro, com pessoas, na nossa concepção da época, mal encaradas e
assustadoras. Mas, como já estávamos lá, prosseguimos com a nossa missão.
Subimos vagarosamente a rua inteira, e como não sabíamos o número, precisamos
verificar em ambos os lados procurando a bendita “maçaneta triangular”. Esta
rua não é pequena e com minha costumeira sorte, o local ficava no fim dela, mas
do outro lado, não do que estávamos. Assim, subimos a rua inteira verificando
todas as portas para ver a tal maçaneta. Nessa rua a maioria das casas era para
fins comerciais e existiam também muitos prédios antigos.
Finalmente,
chegamos ao final da rua em um aclive e nada... Não tínhamos achado! Ficamos
cabisbaixos e desanimados, pois como esta era a única pista que tínhamos,
parecia que nossa busca havia chegado ao fim sem sucesso. Pensei até que a
informação estava errada e que estávamos andando por ali à toa. (Vale lembrar
que naquela época não tínhamos as ferramentas que temos hoje como a Internet.
Hoje basta clicar em qualquer site de busca que retornará uma quantidade enorme
de informações). Mas, por um instinto que na época eu não sabia como
funcionava, pedi para verificar uma porta próxima de onde estávamos que ficava
um pouco recuada e provavelmente deve ter passado despercebida. Fomos averiguar
e lá estava... a tal Maçaneta Triangular com uma pequena placa encima com o
nome da Organização. Para nós foi como se houvéssemos encontrado o “Santo
Graal”! Fizemos a maior festa ali mesmo no meio da rua. Algumas pessoas que
passavam olharam para nós desconfiados.
Somente
naquela hora é que percebemos exatamente o que estávamos fazendo. Estávamos
prestes a entrar em um local, sem qualquer tipo de convite, sem saber o que nos
esperava, e tendo uma informação muitíssimo vaga do que se tratava! Afinal, uma
pessoa “entrar no espelho” não é exatamente algo muito comum não é? O que mais
se aprendia ali? Quem frequentava esse local? Seria perigoso? O que poderiam
exigir de nós? E se fosse tão secreto que corríamos o risco de algum tipo de
punição? E se simplesmente não fosse o lugar que estávamos procurando e
poderíamos até ser acusados de invasão?
Ok,
vamos entrar. Mas, quem irá à frente? Ficou aquele jogo de empurra... vai você,
não as damas primeiro... no final, como cavalheiro que sou e é claro, querendo
impressionar a garota, me enchi de coragem para abrir a porta. Quando toquei na
maçaneta, minha imaginação se pôs a trabalhar e já senti algum tipo de energia
emanando da mesma... mas a única energia lá era a minha mão tremendo.
Com
muita relutância, consegui abrir a porta, que não sei por que, estava
tremendamente pesada e difícil de abrir... evidentemente, a minha imaginação
estava se divertindo novamente.
Confesso
que foi um tanto decepcionante, pois esperávamos algo muito mais emocionante.
Novamente começou a disputa: quem sobe a escada primeiro? Era daquelas escadas
de prédios antigos, que fazem um “L” e não dá para ver o que ou quem está no
final dela.
Novamente,
eu fui incumbido da tarefa e com a B. grudada em minhas costas, começamos a
difícil escalada. Subíamos muito lentamente, degrau por degrau. Eu podia sentir
a respiração ofegante dela no meu pescoço e imagino que eu estava do mesmo
jeito. Chegamos á curva da escada e nossa imaginação já estava a mil e ouvíamos
todo tipo de ruídos estranhos, todo tipo de aromas exóticos e um clima diferente.
Neste ponto, havia um quadro na parede de frente para quem subia os degraus com
o seguinte teor:
Sei
que há somente um Deus Vivente, Verdadeiro e Infinito, Criador e Mantenedor de
todas as coisas visíveis e invisíveis, cuja Essência está difundida em todo
Universo e cuja Mente e Consciência constituem a Alma do Homem.
- Pois não disse ele. Em que posso ajudá-los?
Com
a tranquilidade e harmonia do local, consegui falar com esse simpático senhor
que mais tarde fiquei sabendo chamar-se R. e não era tão velho como aparentou
no primeiro momento.
- Nós queremos maiores informações sobre a
Organização, disse, ou melhor, gaguejei eu.
- A Ordem “R”. é uma fraternidade
internacional, de caráter cultural, fraternal, não sectário e não dogmático, de
homens e mulheres dedicados ao estudo e aplicação prática das leis naturais que
regem o universo e a vida. Seu objetivo é promover a evolução da humanidade
através do desenvolvimento das potencialidades de cada indivíduo e propiciar
uma vida mais harmoniosa para alcançar saúde, felicidade e paz. Para esse
objetivo, a Organização oferece um sistema eficaz e comprovado de instrução e
orientação para um profundo autoconhecimento e a compreensão dos processos que
determinam a mais alta realização humana. Essa profunda e prática sabedoria,
cuidadosamente preservada e desenvolvida pelas Escolas de Mistérios esotéricos,
está a disposição de toda pessoa sincera, de mente aberta e motivação positiva
e construtiva.
-
Mas quais são as instruções que a fraternidade oferece?
Consciência
objetiva e cósmica, cérebro, mente, simbolismo místico, significado dos
números, experimentos para desenvolver a consciência psíquica, ego, elevação do
Eu psíquico, dons cósmicos, segredos orientais, desenvolvimento da aura,
mistérios da alquimia, projeção de vibrações mentais, magnetismo, centros
psíquicos do corpo humano, princípios ocultos a respeito da natureza da matéria
e sua manifestação, leis da vibração, diferença entre matéria animada e
inanimada, a mente do homem e suas faculdades, relação da mente para com a
consciência cósmica, exercícios para intensificação da vitalidade e poder do
corpo psíquico com sua consciência psíquica, revelações a respeito da relação
do Homem para com Deus e as mais sublimes forças do Cósmico, entre outras coisas.
Então
ele nos perguntou se queríamos olhar um pouco mais o local, ao que respondemos
afirmativamente. Seguimos o corredor e ao lado direito ficavam algumas salas
com pequenas placas na porta, indicando a que se referiam. Passando as salas,
no mesmo lado esquerdo, já no final do salão, havia outro local maior que tinha
uma placa escrita! “Suprimentos”. Eu olhei para ver o que tinha lá e vi muitos
livros, incensos e uma coleção de coisas extraordinárias que eu não tinha a
menor ideia para que serviam. Em minha imaginação pensei ver todo tipo de coisa
misteriosa, poções mágicas, varinhas, mantos etc... Só com o passar do tempo
verifiquei que nada disso existia. Eram suprimentos comuns utilizados nos
estudos, livros sobre misticismo e esoterismo, algumas bijuterias com
referência à organização, etc.
Em
frente a essa sala, havia outra sala, mas não pudemos entrar lá;
Terminado
o “tour” nós agradecemos e fomos embora.
No
caminho para casa eu estava tremendamente excitado, pois aquelas revelações
preliminares atingiram minha mente como um raio e eu estava ansioso para poder
começar os estudos.
Logo
no dia seguinte, eu preenchi o folheto, enviei para o local indicado e fiquei
aguardando. Passado alguns dias, chegou a publicação e junto dela o formulário.
Li e reli a publicação diversas vezes. Preenchi o formulário rapidamente e
enviei.
Passou
um tempo muito grande para minha ansiedade. Ficava aguardando a chegada do
carteiro e cada vez que ele passava direto pela minha casa eu o xingava como se
ele tivesse alguma culpa pela demora.
Até
que um dia chegou uma simples carta da fraternidade. Fiquei assustado, pois na
publicação dizia que chegaria um grande envelope, não um carta. Eu a abri com
apreensão e quando li fiquei um pouco mais tranquilo. Ocorre que naquela época
menores de 18 anos podiam entrar diretamente para a fraternidade, porém deveria
acompanhar o pedido de filiação a autorização dos Pais ou responsáveis legais.
Tudo bem, falei com meus pais, consegui a autorização e enviei para a ordem.
Abri
o envelope com cuidado, com uma espécie de devoção exagerada. Lembrem-se, eu
tinha apenas 17 anos. Estudei tanto as lições que cheguei quase a decorar cada
parágrafo! Lia e relia, procurava no dicionário as palavras que não estava
habituado com receio de mudar o sentido da frase. Fiquei fascinado!
Por
fim, acabei conhecendo um “amigo de um amigo” que coincidentemente também era
estudante, o JL, cujo apelido era “T”. Foi com ele que soube que poderia
frequentar uma Loja (é assim que é chamado o lugar das reuniões) e participar
dos rituais.
Em
uma sala separada, um instrutor recebia todos os visitantes e explicava algumas
coisas. Eu aprendi que existe uma forma específica para se adentrar ao Templo,
também aprendi que existe uma forma correta de se andar dentro dele, e também
uma forma específica para deixa-lo.
Em
minha lapela foi fixada uma pequena rosa vermelha feita de tecido com uma
haste, feita com arame também envolvida em tecido, mas verde. Essa era a forma
tradicional para se identificar os visitantes da Loja.
Após
o gongo soar a porta se abriu e surgiu uma figura imponente, vestida com uma
túnica amarela que ia do pescoço até os pés, com um semblante muito sério e
compenetrado em sua função. Com uma voz de trovão (pelo menos soou assim para
mim) disse algumas palavras que eu não consegui ouvir, tamanha era a minha
fascinação. Fiquei ali parado olhando para ele e tentando olhar para aquele
ambiente escuro que eu teria que entrar.
Alguém
me falou que eu devia andar e mostrar as minhas credencias para aquela figura
fascinante parada em frente à porta do Templo. E foi o que fiz. Aproximei-me da
porta e entreguei minhas credenciais para serem verificadas. A figura, que mais
tarde soube que era um Guarda examinou atentamente a documentação e me disse que
poderia passar. Assim que cruzei a porta, deparei com um ambiente escuro, ou
melhor, com uma iluminação muito suave e calmante, mas ainda não o suficiente
para conter a minha ansiedade.
Quando
cheguei à porta de ligação da antessala com o Templo, finalmente pude
visualiza-lo. Fiquei boquiaberto e petrificado no lugar onde estava. A primeira
coisa que vi, foi outra figura em pé, parada de frente para quem entra. Essa
figura usava o mesmo traje da anterior. Vi também que havia bancos laterais, o
mesmo tipo de iluminação da entrada e tocava uma bela música suave. Na hora,
essa figura que estava há certa distância de mim e na obscuridade, me parecia
muito alta e usava uma longa barba grisalha. Fez sinal para que eu me
aproximasse e realizasse a entrada pela forma convencional utilizada em todas
as Lojas do mundo.
Após
realizar a entrada formal me indicam um lugar para que tomasse assento.
Sentei-me e ficava cada vez mais fascinado com o ambiente em que estava. Olhava
para todos os lados, sentia todos os aromas do lugar e caramba, como o ar
parecia mais leve naquele ligar! Notei que as pessoas que entravam não estavam
abobalhadas como eu, e que assim que se sentavam, fechavam seus olhos e
entravam em um estado de meditação e paz. Eu tentei fazer o mesmo, mesmo, mas
não consegui. A minha excitação era muito grande. Percebi também que o oficial
que estava de frente para a entrada corrigia delicadamente se alguém não
fizesse a entrada correta.
As
pessoas continuaram entrando até o último membro da fila. Quando a porta se
fechou, soou novamente o gongo e tudo ficou em silêncio absoluto.
Fiquei
na expectativa do que ocorreria na sequencia... o gongo soou novamente, mas de
forma diferente e o guardião se descolou para outra porta que ficava quase ao
lado de que entrei. Eu não havia notado que existia aquela porta até que foi
aberta. Por ela entraram outros oficiais, vestindo túnicas de cores diferentes.
Um a um eles adentraram no Templo. Também fizeram a entrada formal como todos
os outros e foram aos seus respectivos lugares.
O
gongo soou mais uma vez e alguém pediu que ficássemos em pé. Então aconteceu
algo que me emocionou bastante. Adentrou ao Templo uma figura de aparência
frágil, porém extremamente forte em simbolismo e presença. Ela fez um trabalho
magnífico no Templo conforme um texto maravilhoso era lido por outro oficial.
Ao término desse trabalho, luzes apareceram no Templo! Foi muito bonito. Quando
ela chegou a seu lugar, o gongo soou diferente novamente e anunciaram que o
Mestre tinha chegado. Vocês podem imaginar minha excitação... ia ver o Mestre
em pessoa! Para mim naquela época, o Mestre seria uma pessoa iluminada,
detentor de muitos poderes. Todos estavam em pé, e foi solicitado que
fizéssemos um determinado sinal. Quando todos estavam na posição correta, a
porta foi aberta pelo guarda e o Mestre entrou. Também fez a entrada formal, se
dirigiu ao Leste e a cerimônia teve início.
Ela
prosseguiu com muita harmonia e beleza. Evidentemente, não posso entrar em mais
detalhes da cerimônia, uma vez que ela é reservada aos membros ativos e
regulares da Ordem. Mas posso afirmar que tudo é feito tendo como objetivo o
desenvolvimento individual de todos os membros, o estudo e o trabalho em prol
da humanidade, sendo dedicado esforço e trabalho para enviar vibrações de paz,
saúde e harmonia a todos os povos, a todos os necessitados, sem que ao menos
eles saibam desse fato, mas certamente sentirão os efeitos.
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